domingo, 11 de setembro de 2011

Silas, o herói da liberdade!

    Desde a época de minhas aventuras nos corredores da faculdade de Ciências Sociais, tive um fascínio quase que exclusivo pela História Oral, em vários trabalhos inclusive o de conclusão de curso, me baseei nesta técnica, que para mim leva o pesquisador a um mundo não só de verdades mas de muitas fantasias 'reais' bonitas de serem ouvidas (vale a dica aqui para o livro lindo da Ecléa Bosi: Memória e Sociedade - lembrança de velhos)!
    Como sou um pouco fuçada nesse negócio de história oral, é praticamente impossível eu estar em algum lugar com pessoas interessantes e não começar a "desenterrar o passado" e foi assim que num dia de calor, digno de Rio de Janeiro, descobri uma história interessantíssima sobre Silas de Oliveira.
    A mim, me incomodava um pouco o fato de ele ter escrito o samba 'Heróis da Liberdade', junto com Mano Décio e Manoel Ferreira, em pleno 1969 (época que em a ditadura militar brasileira mostrava suas garras mais pontudas) e absolutamente nada, nenhuma punição lhes tivesse acontecido... Pois bem, houve! 
    Silas Junior, me contou que depois que o samba ficou pronto e devidamente reconhecido na quadra do Império Serrano, Silas e seus parceiros foram chamados por um delegado de polícia para prestar esclarecimentos sobre o samba. Na verdade, não foi um pedido da polícia, como de praxe, foi uma imposição  inclusive com ameaça dos policiais de prenderem o trio!
    Foi pedido a Silas de Oliveira então para explicar os subversivos versos: 


"Essa brisa que a juventude afaga
Essa chama 
Que o ódio não apaga pelo universo 
É a revolução em sua legítima razão(..)"

    No desespero e sabedoria, Silas de Oliveira explicou aos militares que, a palavra REVOLUÇÃO tinha sido colocada no papel por engano, que tinha sido erro de digitação e na verdade, o correto era a palavra EVOLUÇÃO!!!!
    Não sei se eles caíram na conversa. O fato é que Silas já era um sambista muito conhecido e realmente tinha a simpatia de muita gente... se a fama ajudou? Também não sei! O que sei, é que 'contra fatos não há argumentos' e neste ano, 1969, o Império Serrano desfilou lindamente com um dos sambas mais bonitos da nossa história, não foi campeão do carnaval, mas com certeza imortalizou o samba dentro da nossa cultura!
    Com vocês, alguns flashes do desfile do Império Serrano de 1969! 
                                                                                                                                                                                          (Texto: Carol Gallego)




Passava noite, vinha dia
O sangue do negro corria
Dia a dia
De lamento em lamento
De agonia em agonia
Ele pedia o fim da tirania
Lá em Vila Rica
Junto ao largo da Bica
Local da opressão
A fiel maçonaria, com sabedoria
Deu sua decisão
Com flores e alegria
Veio a abolição
A independência Laureando
O seu brasão
Ao longe soldados e tambores
Alunos e professores
Acompanhados de clarim
Cantavam assim
Já raiou a liberdade
A liberdade já raiou
Essa brisa que a juventude afaga
Essa chama
Que o ódio não apaga pelo universo
É a evolução em sua legítima razão
Samba, ó samba
Tem a sua primazia
Em gozar de felicidade
Samba, meu samba
Presta esta homenagem
Aos heróis da liberdade
Ô, ô, ô, ô
Liberdade senhor!

4 comentários:

  1. Parabéns Carol Gallego! O samba precisa de pessoas como vc.

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  2. Muito bacana o texto, Carol! Parabéns pelo blog, Junior! Vou divulgar na Agenda. Beijos ao casal e à Narinha! obs: eu tb sempre me perguntei isso, como é que não houve punição... rs... e houve!

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  3. Mas a sensação incômoda continua.... o golpe militar também foi conhecido como "revolução"..... na véspera do AI-5 um samba cantando à liberdade, não a que viria (ou a desejada) mas a que já "raiou", no mínimo é extranho. A verdade é que é um belíssimo samba-enredo, peça rara......mas preciso saber o quê se estava homenageando

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