terça-feira, 28 de junho de 2011

E SEU RECADO FOI DADO AO POVO...

  No fim da década de 60, Silas já estava desanimado com sua escola Império Serrano e com os rumos do carnaval carioca, as coisas já não eram como antes, com toda a exaltação à cultura brasileira... agora o dinheiro falava mais alto.
  Assim, nos últimos anos de vida, Silas passou a preferir as rodas de samba onde o ambiente era mais tranquilo e vivia se queixando de que tinha muito canalha dentro das escolas de samba, o que era de se estranhar, pois o poeta não costumava ter este palavreado.
  No dia 20 de maio de 1972, o velho Silas estava angariando dinheiro entre os amigos para matricular sua filha Elenice no vestibular. Tentara conseguir, em vão, um adiantamento de 30 Cruzeiros em sua editora, Irmãos Vitale. O samba Heróis da Liberdade de sua autoria, estava sendo regravado, com sucesso, mas a empresa achou que a quantia pedida era muito alta.
  Silas então resolveu ir a uma roda de samba que pagaria a quantia de que tanto necessitava naquele momento e mesmo se sentindo mal arrumou-se e foi. Naquela noite, ele, que era cantor tímido, que estava aparentemente ótimo, colocando com precisão e emoção sua voz  para surpresa e deleite do público. Caía uma fina garoa no terreiro quanto o velho Silas sentiu que ia morrer... Feito bamba de verdade, no terreiro de samba, sem tempo para os médicos.
  O convidado especial daquela noite morreu depois de cantar seus lindos sambas Meu drama, Heróis da Liberdade e por último Os cinco bailes da história do Rio...
  Quando o corpo, levado pelos sambistas amigos, chegou à Associação das Escolas de Samba, lá estava chegando também uma coroa de 1.000 Cruzeiros: "Saudades Eternas dos Irmãos Vitale."
(Fonte: Nova História da Música Popular Brasileira, 2.ed., 1977. Adaptado por Carolina Gallego)

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Tuco Pellegrino aqui no SAMBA DE SILAS!

Olá parceiros e parceiras que acompanham fielmente o SAMBA DE SILAS!!!
Hoje é dia de mais um convidado especialíssimo e que vem lá de São Paulo! Tuco Pellegrino. Está de disco novo na praça: "Tuco & Batalhão de sambistas. Peso é peso." Sucesso pra você, companheiro! Sucesso para o samba!


Silas De Oliveira ... O Professor !
Sobrenome de peso é esse ... Oliveira !!!
No Velho Estácio de Sá, escola onde a maioria de seus fundadores eram
chamados por " Mano " e daí vinha ( Bide , Marçal , Edgar , Nilton , Aurélio ,
Brancura e outros mais ) relemente foi o primeiro e maior reduto de samba, mas
notem que quase Toda Escola de Samba teve um Oliveira como descrevo abaixo :
Portela teve Paulo , Mangueira teve Cartola , Salgueiro teve Noel Rosa ,
e no Império teve Silas o grande mestre não só dos sambas enredos
como é conhecido mas tambem de sambas de Terreiros e outros mais ..
Tive a oportunidade de conhecer um pouco sobre a obra de Silas através
da Biografia da Marília Trindade Barboza que é um livro rico e cheio de informações
e também nos discos onde pesquiso esses sambas mais antigos. Neste livro contem as letras de inúmeros sambas desse Professor 
e por la esta a letra " Luz da MInha vida " que ja tinha ouvido falar
em um samba do Walter Rosa chamado " Confraternização " onde dizia ..
" Silas viga mestra do Império Serrano " e essa é uma verdade que a História
nos deixou.. Silas foi uma viga mas nao só para o Império Serrano e sim para o nosso Samba,
para a nossa música Brasileira. O Monarco em um dia inspirado fez uma visita a Uberlândia e
lá os amigos Luiz Carica e Rodrigo Santiago conseguiram captar o áudio desse
belo samba e meses depois Monarco veio a São Paulo onde consegui
tirar algumas duvidas finais sobre ele junto com o Rafael Lo Ré e o Paulo Mathias
e daí estaria certo o samba que citei acima e Monarco dizia também que
Silas gostava muito dessa música alem de ser uma declaração de amor com toda elegancia
teria sido também um sucesso no Terreiro do Império," imaginem todos juntos cantando... " 
.O Roberto Ribeiro e o Mauro Diniz quase o gravaram mas eu acabei tendo a felicidade
e a Honra de Gravar esse samba junto com meu Batalhão de Sambistas ..
Meses depois viemos a conhecer o Senhor Hélio do Império
que nos trouxe ricas histórias desse grande mestre Silas de Oliveira ,
inclusive nos ensinou alguns dos sambas que estavam no Livro ...
Muitos sambistas reconhecem o valor de Silas de Oliveira tanto nas suas letras
como nas suas melodias ,Foi um Imperiano de coração que partiu bem cedo mas a sua
história esta presente entre nós e sempre seremos gratos por tudo o que ele deixou
pro univeros da nossa Música , Natal queria muito ele na Portela mas ele não largava o Império   ..
Existe um samba de Silas "Me Leva" que era descrito no livro de forma que ele
se comovia muito ao ouvi-lo pois a sua filha antes de deixar esta
terra de forma tao prematura gostava muito dessa música e Silas havia feito para ela ,
eu encontrei esse áudio e sempre gostei de cantá-la pelas rodas de samba que participo
e foi gravado por Anisio Silva ... Quando eu cheguei ao Mundo ja fazia Sete anos
que Silas de Oliveira havia deixado esta Terra e ele partiu cantando um samba seu
num Terreiro de Samba , e tenho na lembrança um disco de Roberto Ribeiro em que foi deixado
uma cadeira vazia em sua homenagem ...
Nunca escrevi nada sobre nenhum sambista mas agradeço a oportunidade dada pelo Junior
pois é uma honra escrever essas poucas linhas que jamais descrevem o que foi Silas de Oliveira
mas retrata um pouco daquilo que ele significa para mim .  
Salve o Professor imperiano Silas de Oliveira !!!
 

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Festa de preto na casa da Tia Ciata

DIA DE OGUM.
     Desde de cedo ninguém parava no velho casarão da rua Visconde Itaúna. A negra baiana era ativa demais para os seus mais de sessenta anos de idade. Toda de branco, saia engomada, cabeção de renda, torso bordado envolvendo totalmente os cabelos rebeldes, sobre os seus fartos jorrava uma cascatas de contas coloridas. Hoje, o pano-da-costa louvava a cor do santo do dia. No corredor comprido e sombrio ladeado de quartos, ligando a sala da frente à cozinha, ela ia e vinha. Na sala de visita um altar ornado de rica toalha, entronozados os guias de sua devoção entre luizinhas e flores, cadeiras e bancos ladeando as paredes, espaço aberto no meio do cômodo, o cheiro do dendê chegava suave. Nos fundos, antes da cozinha, a outra sala, mesa farta já posta.
     - Tia Ciata, vem prová o tempeiro!
     - Já vai, minha fia!
     E olhava a Praça Onze lá fora, de onde dentro em pouco surgiria seu povo.
     Toda manhã saía equilibrando o tabuleiro na cabeça e caminhava na direção da rua Uruguaiana, onde dobrava e seguia até a Sete de Setembro, sua esquina. Ali se abancava e exibia aquela gostosa parcela de culinária baiana para fregueses e transeuntes já acostumados ao sorriso e às maravilhas em que suas mãos hábeis transformavam os quitutes. Rio de Janeiro, 1916. Mas em dia de pagode ela voltava mais cedo. E pagode era com ela, ô véia danada de fogueteira! Era até compositora...
      Na cozinha abafada negras suavam em frente a panelões fumegantes. Afamosa moqueca de peixe. Pela porta e janelas abertas via-se o quintal amplo, mangueira, jabuticabeira, limoeiro, abacateiro, moleques arrumando as bebidas no tanque.
     E toca a chegar gente, "Boa noite, minha tia, bênção" , "Deus te abençõe, meu sobrinho, Oxalá nos dê uma boa noite, meu pai Ogum comandando o terreiro, saravá meu pai!" Por todo canto gente e mais gente se sentando, comendo, falando, bebendo, tocando, dançando. Todo tipo de gente, tudo feliz, tudo parente, chegando e beijando a mão da tia de todos. Tia Ciata. "Sua bênção, minha tia", "Oxalá te abençoe, meu sobrinho". Baianas velhas carregando pencas de crioulinhos de cara matreira, alguns chorando, "Mamãe , cadê mamãe?"
     Na sala da frente o baile comia solto, um crioulão alto com cara de criança tocando uma flauta que Deus me livre! Esse menino Pexinguinha vai longe, que capeta nessa flauta!" Com pose e maestria Donga olhava as mulatinhas enquanto secundava os trinados, maltratando os bordões do pinho novo. China ensaiava uma terça. E um escuro com calombo nas costas centrava no cavquinho. Êta ferro! Pares enlaçdos.
     Na outra ponta do corredor, tão distante que nem interferia, partido alto seguia rasgado. João da Baiana de prato e faca na mão raiava a chula, tia Perliciana sorrindo orgulhosa, Heitor dos Prazeres machucando o cavaco. Um grupo de negros cercavam os músicos na maior animação, todo mundo envolvido pelo ritmo nativo. Baianas enchendo pratos de comida, ô que cheirinho bom, a pinga pra rebater e inspirar.
     Lá do fundo do quintal, entre as árvores, tambores batucando, ávore e tambor, África renascida em plena capital federal, a roda, o batuque, palmas e suor, um casal descalço batendo os pés na terra e negaceando os corpos, que se encontravam finalmente na umbigada fatal. E em qualquer canto de casa, às vezes trocando de lugar mas sempre presente, Sinhô, Getúlio Marinho, Mano Elói, Caninha, Didi da Gracinda, João Câncio, Lalu de Ouro, amigos, além das dezenas de filhos e netos da velha, inventavam, sem saber, uma riqueza maior: a nossa música popular. Sob as bênçãos de Oxalá, Ogum, Xangô, e sob o olhar jovial e carinhoso de Hilária Pereira de Almeida, a tia Ciata.
    E assim o samba se fazia, nas bandas de São Sebastião do Rio de Janeiro...
(Fonte: SILVA, Marília T. Barboza & OLIVEIRA FILHO, Arthur L. de.  Silas de Oliveira, do jongo ao samba-enredo. RJ, FUNARTE, 1981.)

Tia Ciata

Tia Ciata, Tia Josefa, Donga, Pixinguinha e João da Baiana

Pixinguinha


Heitor dos Prazeres


quinta-feira, 9 de junho de 2011

Gabriel Cavalcante no Samba de Silas!!!!!

   Hoje no blog do Silas, tem um texto maravilhoso escrito por um camarada da melhor qualidade e muito talentoso no que faz, tenho muito orgulho de ser amigo desse cara, aprendi muitas coisas boas ao seu lado, já fizemos muitas rodas de samba maravilhosas, inclusive uma no centro da cidade que é sensacional, que é o samba da Ouvidor. Viajamos juntos para fazer o que mais amamos que é cantar e tocar o samba tradicional....
   Estou falando do meu irmão camarada Gabriel Cavalcante!



É impossível falar da história de nosso país sem falar em Silas de Oliveira.

Quando, aos 16 anos, conheci Meu Drama, numa investida em Oswaldo Cruz, em uma das primeiras saídas do Trem do Samba, não tinha idéia do quanto eu seria feliz um dia com as obras desse grande imperiano.

Lembro-me perfeitamente do trajeto de volta pra casa, percorrendo de táxi a linha do trem em direção à Tijuca, num temporal avassalador, aqueles versos ecoando em minha cabeça: " Óhh, minha romântica senhora tentação... "

Hoje, quase 10 anos depois, tenho a certeza de que apenas os gênios maiores da nossa raça conseguem unir letra e melodia de uma forma que a música não fique cansativa. Tratando-se de sambas enredos então... Silas é a prova viva da genialidade de um povo.

O caminho mais comum é falar que Silas foi o maior compositor de sambas enredos de todos os tempos, porém, ele foi além disso. Silas foi único no que fez e prezou durante toda a sua vida. Conseguiu transformar algo que já nasceu para ser repetido e repetitivo em obras primas, que certamente faziam a escola evoluir de uma maneira diferente. E não é preciso ter vivido naquele tempo para ter certeza disso.

Arrepio-me ao saber que uma escola de samba desfilou com todos os seus componentes dizendo no pé, e cantando numa só voz: " Ao longe, soldados e tambores, alunos e professores... "

Mas como falei antes, Silas foi além do terreiro da escola.

Em Fica, por exemplo, samba gravado por Carmem Silvana, ouve-se versos como: "Fica, o meu desejo é profundo, é açoite, fica... fica comigo esta noite. Nunca é demais pedir para amar, eu tenho medo de você ir e não voltar, depois de tanto tanto te esperar..."
Ouvir o samba Me Leva, é sentir uma das maiores declarações de amor de um pai para uma filha. Samba tão marcante este, que foi gravado sete vezes pelo mesmo cantor, Anísio Silva.

Na verdade, isso seria um espanto, caso o samba não fosse de Silas de Oliveira, mas como é, as sete gravações se justificam com naturalidade.

Aliás, falando em naturalidade, me lembrei de um samba de terreiro do Império, Serra de Bamba, de Manoel Bonfim e Nina Rodrigues que diz em um trecho: " No meu bairro cidade há uma serra, onde tem muita gente bamba. Lá com naturalidade nasceu uma potência do samba..."

É simples mesmo, natural... com Silas de Oliveira, Mano Décio, Mestre Fuleiro, Dona Ivone, Molequinho, entre outros, qualquer potência nasceria naturalmente.
 

sexta-feira, 3 de junho de 2011

CONVIDADO NO SAMBA DE SILAS!!

É isso aí, parceiros! Hoje tem gente boa aqui no Samba de Silas falando um pouco sobre nosso Mestre Silas de Oliveira.
Esse espaço será sempre aberto para receber o pessoal da música, das artes, da história, enfim... da vida, para falar de Silas!
E hoje, nosso convidado é o músico e compositor paulista Renato Martins. Lindo texto! Valeu parceiro!!!


Silas e os meus delírios.

Tinha eu ainda poucos anos de praia, quando saquei, assim meio como as crianças sacam, quando os porquês da vida são ainda carregados de pura ingenuidade, que toda festa em casa nos churrascos do meu pai, em natais, em ano novo, em aniversários e velórios, uma música era constante. Meu mau humor infantil subia às nuvens quando essa música rolava. Eu, como qualquer garoto da década de 80 queria ouvir a Turma do Balão Mágico, o disco do Jaspion, o Trem da Alegria, e meu pai – principalmente de caveira cheia – cismava em colocar a música para o meu tormento. Dizia ele, com uma paciência para a vida que eu, confesso, herdei: “- Isso é música boa. Você tem que gostar é disso...”
Deu na cabeça, no alto dos meus 14 anos, de perambular por aí cantarolando o Paulinho, acendendo a memória – “Seu doutor, o meu pai tinha razão...”
Aquarela Brasileira” sobrevoou  a minha infância na versão clássica do Martinho da Vila que em casa só tocava menos que Jhonny Rivers e “Os Folhas”... Mas isso é outra história.

Já adulto, vibrou na imaginação a imagem das cortinas da Serrinha se abrindo quando ele cantava “És a luz da minha vida...” e outros tantos sambas compostos por ele igualmente imortais.

Mas quem é ele? Quem é o genial autor, com a legitimidade que apenas os autores populares têm, com a simplicidade que apenas os gênios podem atingir, com a verdade que só quem canta para o povo pode trazer e que não consta em nenhum bronze de homenagem? Que não está nas páginas dos livros escolares, não figura nos quadros dos exemplos a serem seguidos e que hoje é, para a nuvem negra que paira sobre a indústria cultural, algo a ser esquecido, afastado.

Vamos deixar de lado todas as deturpações do carnaval das Escolas. Vamos abandonar tudo o que nos foi legado pelos grandes mestres do passado. Abandonemos também a história e busquemos a evolução desenfreada, burra, mal pensada e eteceteras...
Façamos tudo isso e jamais, vejam bem, jamais conseguirá se apagar o histórico do genial Silas de Oliveira.
Silas tem as mãos de quem recria, de quem transforma, e fez isso quando reinventou a forma de contar história na avenida, quando a avenida ainda era passeio público para o folião.
Silas estourou nos tímpanos da ditadura quando a Serrinha desceu cantando “Já raiou a liberdade, a liberdade já raiou...” em pleno jorramento de sangue de 1969.

Silas era professor. Silas era mestre de batuta em riste todo o tempo.
E é triste todo folião antigo, quando no auto do saudosismo, treme a cortina na quarta-feira para ouvir o seu cantor que não vêm.
Mas ele vem. Ele tá passando...